Como lidar com a saudade

Quando partem para suas viagens pelo mundo, nômades digitais se afastam fisicamente das pessoas queridas. Como lidar com a saudade?

A sensação de estar “abandonando” familiares e amigos é um dos obstáculos mais comuns para quem hesita em realizar o sonho de virar nômade digital – viajar pelo mundo enquanto exerce uma atividade profissional que pode ser executada de qualquer lugar.

Mas, será que isso é mesmo um problema? Talvez nem tanto.

A experiência de quem já pratica o nomadismo digital demonstra que as relações pessoais tendem a ficar até melhores do que antes.

Entre os vários aspectos que precisam ser levados em conta nessa análise, o principal é repensar o próprio conceito de distância. Afinal, a mesma tecnologia que possibilita a realização de vários tipos de trabalho remoto permite também a comunicação com as pessoas queridas a qualquer momento, e sem custos. 

Hoje, mais do que nunca, sentir-se distante é relativo. Não se trata de um aspecto meramente geográfico.

A pandemia de covid-19 ajudou a demonstrar o quanto é possível estar próximo mesmo sem o abraço, sem o toque físico.

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Patricia Figueira já lida com a saudade desde 2010, quando se tornou Nômade Digital.

O sabor do reencontro

Além do mais, quantas vezes vemos pessoas tão inseridas num determinado cotidiano, tão mergulhadas na rotina, tão condicionadas a compromissos meramente protocolares, que acabam se sentindo distantes mesmo quando estão fisicamente próximas

No caso de quem passa a maior parte do tempo viajando, os reencontros com familiares e amigos tornam-se sempre especiais, ganham um sabor diferente. 

“Há muitas percepções e sensações relacionadas a familiares e amigos que só ocorrem quando a gente se distancia”, observa Vinícius Teles – que forma, ao lado de Patricia Figueira, o Casal Partiu, referência do nomadismo digital no Brasil, com passagem por mais de 70 países nos últimos dez anos.

“Não por acaso, viajar é sinônimo de autoconhecimento, de conexão consigo mesmo”, completa Patricia.

Vida tribal

Uma dessa percepções, exemplifica Vinícius, diz respeito ao jeito de ser extremamente gregário dos brasileiros.

Desde cedo nos acostumamos a viver em grupos – primeiro na família, depois na escola, na faculdade, no ambiente de trabalho, nas associações profissionais, na igreja, no partido político.

“Despertamos mais profundamente para essa análise depois que conhecemos um argentino numa praça de Rosario, onde estávamos morando logo no início da nossa trajetória como nômades”, lembra Vinícius.

Ao perceber que o casal falava português, o rapaz se apresentou, contando que no verão sempre passava algum tempo em Santa Catarina para trabalhar como barbeiro. 

“Quando falamos sobre as diferenças entre brasileiros e argentinos, ele disse que a maior de todas era o caráter ‘tribal’ dos brasileiros”, descreve Vinícius.

Privacidade e individualidade

O rapaz argentino contou que, nas barbearias brasileiras em que costumava trabalhar, todos saíam sempre junto para almoçar, num mesmo restaurante. As pessoas se sentiam constrangidas se deixassem de chamar alguém da equipe para ir junto, da mesma forma que as pessoas se sentiam constrangidas em recusar o convite.

Quando a dona de uma das barbearias organizou uma festa de aniversário para o filho, sentiu-se na obrigação de convidar toda a equipe, mesmo não tendo relacionamento próximo com a maioria.

“Aqui na Argentina é muito diferente. Na hora do almoço, ou no final do expediente, cada um segue para o seu lugar, justamente por ser a oportunidade de respirar um pouco de privacidade e de individualidade”, observou o rapaz.

Daí em diante, Patricia e Vinícius foram percebendo, ao longo das viagens, como esse comportamento dos brasileiros é, de fato, exagerado em relação ao que ocorre no resto do mundo. 

“Nos outros países, em geral, o nível de autonomia costuma ser bem maior que no Brasil. Não é à toa que em muitos lugares espera-se que o jovem saia da casa dos pais aos 18 anos e vá fazer a sua vida”, observa Patricia.

Casal Partiu - Nomades Digitais
O Casal Partiu é primeiro casal do Brasil de Nômades Digitais

Desculpa perfeita

Abrir mão da proteção dos grupos, do conforto representado pelo convívio com ambientes conhecidos e dominados, é, ao mesmo tempo, um ônus e um bônus para quem se lança ao nomadismo digital.

Para compensar a sensação de estar “desprotegido” no mundo, desfruta-se de liberdade e de autonomia em níveis até então desconhecidos – especialmente para os brasileiros, que, em geral, são acostumados desde cedo a ter a individualidade suprimida.

Para muita gente, pode ser até o marco inicial da vida adulta plena. Afinal, estar sempre ligado a grupos tem um preço: o da conformidade. É preciso permanecer submetido às expectativas e regras sociais da família, dos amigos, dos colegas, do condomínio, da empresa. 

“O nomadismo oferece a desculpa perfeita para não comparecer àquela festa de aniversário do sobrinho do amigo do cunhado: você está do outro lado do planeta”, brinca Vinícius.

Ato de rebeldia

Já que estamos falando da relação com parentes e amigos, os nômades digitais experientes têm um alerta a fazer para quem está planejando adotar o nomadismo: é quase certo que as pessoas mais próximas demonstrarão resistência à ideia. 

Isso porque o projeto é muitas vezes interpretado como um ato de “rebeldia” – e, de certa forma, é mesmo, considerando-se o rompimento com as expectativas determinadas pelos padrões sociais

Por conta da provável resistência, a recomendação do Casal Partiu é de que os primeiros passos para o nomadismo sejam dados em silêncio. A falta de incentivo das pessoas próximas poderá ser especialmente cruel para pessoas que tendem a valorizar demais a opinião dos outros.

Vida que segue

Essa mesma resistência pode se manifestar de outras formas, mesmo para quem já está em plena prática do nomadismo digital. 

Muitos nômades digitais relatam um certo desinteresse dos familiares e amigos pelas histórias acumuladas ao redor do mundo. Tanto nas interações virtuais quanto nos reencontros ao vivo, costuma haver uma preocupação maior dessas pessoas em relatar o que está acontecendo com quem ficou do que em demonstrar disponibilidade para ouvir os relatos de quem partiu.

“Isso é muito comum, tanto com base na nossa experiência quanto na de muitos outros nômades digitais com os quais trocamos impressões. Difícil entender a explicação, mas provavelmente é pelo fato de que estamos fazendo algo fora dos padrões, o que provoca certo desconforto na maioria das pessoas”, conta Patricia

Com o passar do tempo, o Casal Partiu passou a elaborar a questão da seguinte forma: essa postura de parentes e amigos não significa que há menos afeto na relação. “Se perguntam, respondemos. Se não, tudo bem. Vida que segue”, diz Vinícius.

Casal Partiu - Como lidar com a saudade
Patricia Figueira, desfrutando um café e a vida que segue

Imagem não é tudo

O desinteresse descrito por Patricia e Vinícius pode estar relacionado ao descompasso natural entre os aspectos mais valorizados em cada estilo de vida.

Para os nômades digitais, as experiências são o grande atrativo.

Já para quem leva uma vida “fixa” num determinado lugar, as prioridades costumam ser mais claramente as impostas pela sociedade – obter promoções no trabalho, acumular patrimônio, adquirir bens vistos como símbolos de sucesso, a exemplo de imóveis, carros e roupas caras

Sem maiores laços sociais nos lugares por onde passam, os nômades digitais não sentem a necessidade de se vestir de determinada forma ou de ter um modelo de carro para impressionar.

“A gente deixa de se preocupar com o que os outros vão pensar. Isso é muito libertador”, observa Vinícius.

Um mundo de possibilidades

Ajuda muito o fato de que, em geral, os nômades passam não mais do que três meses em cada país – limite normalmente concedido para o visto de turismo.

Trata-se do meio termo perfeito para ter uma imersão rica, sem, no entanto, ser condicionado pelos parâmetros locais de comportamento. 

É um prazo suficiente, também, para conhecer pessoas interessantes, que podem ser relações transitórias ou entrar para o circuito de amizades duradouras.

O Casal Partiu acumula alguns casos assim ao longo da década como nômades digitais.

Uma estratégia para conhecer pessoas é participar de encontros organizados com frequência em vários lugares do mundo por plataformas relacionadas à vida nômade, a exemplo da CouchSurfing, de oferta de hospedagem, e da Workaway, de voluntariado.  

A própria vida nômade é um tema que costuma aproximar pessoas interessadas em viagens e em conhecer diferentes culturas. Outras afinidades podem surgir por conta de assuntos mais específicos. 

Um exemplo é o casal Oregano Zen, formado por Rocío Quiroga e Wagner Adornetti, nômades há quase dois anos. Eles são adeptos do vegetarianismo e do veganismo, filosofias que frequentemente os vinculam a outras pessoas durante as viagens.

Comece a sua história!

Depois de ter lido este artigo, é provável que você já não sinta a mesma culpa diante da perspectiva de virar nômade digital.

Que tal saber mais sobre os passos em direção ao nomadismo, recebendo orientação de quem já passou por tudo isso e sabe como fazer?

Hoje, o Casal Partiu se dedica integralmente à missão de ajudar outras pessoas a realizar o sonho do nomadismo digital.

Eles criaram o livro “Nômade Digital – Trabalhe de qualquer lugar e viaje o quanto quiser” para dar clareza sobre os passos necessários de um plano de transição, inclusive a percepção da atividade online que pode ser desenvolvida.

O livro Nômade Digital traz a experiência de 44 nômades digitais brasileiros, assim como um guia completo mostrando o “como faz” de todos os aspectos deste estilo de vida.

Quem já leu, foi transformado pela experiência, com plena convicção de que o projeto de virar nômade digital pode se tornar realidade.

Se você sonha em se tornar nômade digital e quer dar os primeiros passos, conheça o livro Nômade Digital clicando aqui

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