O principal requisito para virar nômade digital é ter um trabalho que possa ser exercido onde quer que você esteja. Como a transição de carreira pode ser o seu passaporte para o mundo?
Perto de completar 50 anos, Mônica sente-se um tanto frustrada ao olhar para a vida que teve até agora – embora muita gente possa classificar essa vida como “perfeita”.
Ela encontrou um grande companheiro, Eduardo. Ambos são funcionários públicos. A estabilidade da carreira possibilitou dar todo o conforto aos dois filhos e levou o casal a conquistas materiais, como a casa própria.
A frustração de Mônica é por conta de um sonho ainda não realizado: ela sempre quis conhecer o mundo e ter a experiência de morar fora do Brasil, mas até agora só conseguiu fazer algumas viagens internacionais rápidas.
Nunca foi fácil sincronizar os planos de viagem aos períodos de férias do marido e dos filhos. Além do mais, nem sempre sobrava dinheiro no orçamento doméstico, sobrecarregado de contas.
Agora, com os filhos independentes e uma situação financeira um pouco mais confortável, Mônica está muito insatisfeita com a realidade de quem tem um emprego convencional: esperar onze meses para ter direito a apenas um mês de férias.
Nomadismo digital e a transição de carreira
Ela conversou com o marido e os dois decidiram que vão mudar completamente de vida. Definiram um prazo de dois anos para se tornarem nômades digitais.
Trata-se do estilo de vida em que as pessoas deixam de ter residência fixa e passam a morar de país em país, enquanto exercem uma atividade profissional que pode ser realizada de qualquer lugar.
Nômades digitais costumam alugar imóveis em plataformas como o Airbnb e permanecem em cada país dentro do prazo permitido pelo visto de turismo, que costuma ser de três meses.
Enquanto a vida passa
Os dois anos de planejamento são necessários porque não se trata de um rompimento simples. Tanto Mônica quanto Eduardo estão há mais de 20 anos em seus respectivos empregos.
Eles se sentem presos a “algemas de ouro”. O termo se refere a uma condição profissional que proporciona tamanha segurança e estabilidade que a pessoa se sente presa, refém de um emprego que é considerado “bom demais” para ser abandonado.
Ambos foram influenciados pelo paradigma de sucesso imposto à geração deles. A meta era conquistar o quanto antes um trabalho “seguro”, com carteira assinada, de preferência público. Daí em diante, bastaria cumprir o roteiro e esperar a aposentadoria para curtir a vida.
Coragem pra mudar
Assim como Eduardo e Mônica, muita gente segue à risca esse modelo. O problema é ter que dar em troca os dois bens mais preciosos que uma pessoa pode ter: liberdade e tempo.
Hoje, a questão que se coloca é: será mesmo necessário esperar pela aposentadoria para “curtir a vida”? Por que não fazer isso desde sempre, reunindo trabalho e prazer no mesmo cotidiano?
A realidade pode ser diferente, graças ao surgimento de muitas oportunidades de trabalho remoto. O que ainda falta, em boa parte dos casos, é simplesmente coragem para mudar.
Até mesmo quem tem filhos pode adotar o nomadismo digital.
O home schooling, prática em que o ensino fica a cargo dos pais ou responsáveis, é comum em várias partes do mundo. Há cursos e amplo material de apoio, com custos que chegam a ser dez vezes menores que os das mensalidades em escolas privadas no Brasil.
Arrependimento gigante
No caso de Mônica e Eduardo, o empurrão decisivo rumo ao nomadismo foi dado pela reforma previdenciária.
Os quatro anos que faltavam para a aposentadoria dela se transformaram em 12 anos. Ele também se viu em situação semelhante.
Assim como o casal, milhões de brasileiros estão se dando conta que a aposentadoria vai demorar mais para chegar e que a remuneração será menor do que a imaginada. Ou seja: o futuro não será tão seguro e confortável como prometido.
A maioria das pessoas só percebe que não aproveitou a vida como poderia quando já é tarde demais.
“Isso leva a um processo gigantesco de arrependimento”, alerta Vinícius Teles – que forma, ao lado de Patricia Figueira, o Casal Partiu, referência do nomadismo digital no Brasil, com passagem por mais de 70 países nos últimos dez anos.
Conta que não fecha
A própria Patricia é um ótimo exemplo de quem teve coragem para evitar o arrependimento futuro.
Ela era uma profissional reconhecida de Tecnologia da Informação quando decidiu se dedicar a uma nova carreira, a de fotógrafa de casamentos. Cresceu a tal ponto na atividade que passou a ganhar mais dinheiro do que antes.
Nova reinvenção foi necessária quando o casal se decidiu pelo nomadismo digital. Patricia continuou por algum tempo cumprindo uma agenda de casamentos nos períodos em que voltava ao Brasil, mas com o tempo passou a se dedicar inteiramente aos produtos do Casal Partiu.
Ela conta que transições de carreira sempre envolvem o medo do recomeço, o receio de “desperdiçar” tudo o que já foi aprendido e construído até então. “Mas, na verdade, a gente nunca parte do zero: as experiências anteriores sempre são úteis e ajudam a construir o novo caminho.”
Um dos aspectos mais cruéis de passar muitos anos trabalhando em algo que nem se aprecia tanto, mas paga as contas, é consumir nisso o período mais produtivo da vida, quando se está no auge da disposição e da saúde.
Comece a sua história!
Para quem toma a decisão de se tornar nômade digital, o maior desafio é desenvolver atividades profissionais que possam ser exercidas remotamente.
O melhor caminho é buscar informações e inspiração com quem já enfrentou esse mesmo desafio e sabe como fazer.
Hoje, o Casal Partiu se dedica integralmente à missão de ajudar outras pessoas a realizar o sonho do nomadismo digital.
Eles criaram o livro “Nômade Digital – Trabalhe de qualquer lugar e viaje o quanto quiser” para dar clareza sobre os passos necessários de um plano de transição, inclusive a percepção da atividade online que pode ser desenvolvida.
O livro Nômade Digital traz a experiência de 44 nômades digitais brasileiros, assim como um guia completo mostrando o “como faz” de todos os aspectos deste estilo de vida.
Quem já leu, foi transformado pela experiência, com plena convicção de que o projeto de virar nômade digital pode se tornar realidade.
Se você sonha em se tornar nômade digital e quer dar os primeiros passos, conheça o livro Nômade Digital clicando aqui
Pareceu familiar?
Esta reportagem foi inspirada em várias pessoas que já passaram pelo Desafio Nômade. Uma das angústias mais comuns relatadas pelos participantes é justamente a de se sentir preso a “algemas de ouro”, como se não houvesse alternativa além de contar os dias para a aposentadoria.
Fãs da Música Brasileira devem ter desconfiado que os nomes dos personagens são uma homenagem a uma das canções mais conhecidas do Legião Urbana, “Eduardo e Mônica”.
A canção descreve o encontro de Mônica, uma jovem cheia de sonhos e com interesses diversificados – fazia Medicina, falava alemão, gostava de cinema e de poesia – com Eduardo, um rapaz bem mais pacato.
“Mesmo com tudo diferente”, eles ficaram juntos e seguiram o modelo de sucesso predominante na década de 1980, época do lançamento da canção: “construíram uma casa, batalharam grana, seguraram legal a barra mais pesada que tiveram”.
A canção deixa implícito que viajar se tornou um sonho sempre adiado para o casal – seja por falta de dinheiro, seja pelas complicações da vida, como indica um dos trechos: “Nessas férias, não vão viajar, porque o filhinho do Eduardo tá de recuperação”.
Se o casal de amigos que inspirou Renato Russo a compor a canção estivesse começando a vida hoje, será que repetiriam a fórmula aprendida com os pais ou se tornariam nômades digitais?